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sábado, 25 de junho de 2011

Utiariti ou Uthyaharity 50 anos depois

UTHIAHARITY – UTIARITI
A quem interessar lá se vão outras histórias sobre a Missão Anchieta, a influência dos jesuítas na região e comentários sobre a região. Enviarei ao Marteleto uma série de fotos para que ele as coloque no álbum e todos possam se deliciar com a realidade.
Fui convidado para ir ao Centro Tecnológico de Campo Novo do Parecis, cidade do Mato Grosso que era considerada o final de todas as terras em 1961. Teria atividades com os professores da Escola Técnica Federal e Secretaria de Educação da cidade. O nome é escrito assim mesmo, embora errado quanto ao modo da língua portuguesa grafar. Quando a ela me referir, escreverei somente CNP.
Do aeroporto de Várzea Grande segui de carro para CNP. Quatrocentos e cinquenta quilômetros de asfalto. Em alguns trechos, muito bom. Passamos por Tangará da Serra, onde estive há dois anos e trouxe uma série de fotos.
Com o progresso agrícola o asfalto chegou a uma distância da antiga missão não mais que 60 km. De modo que, ir ao Utiariti e Salto Belo do Rio Sacre ficou muito fácil. As fotos falarão mais que a narrativa.
Acompanhou-nos a Cacique Myriam que tinha sete anos quando de nossa visita à Missão Anchieta em 1961 (Selvaggi, Savioli, Bráulio, Fernando Almeida e eu). Esta cacique supervisiona sete escolas indígenas dentro da reserva de 1.600.000 hectares e cuida das atividades acadêmicas, merenda, material escolar e atendimento aos professores, todos contratados pelo município de CNP.
Segundo a Cacique, as lideranças indígenas nas várias aldeias são exercidas por indígenas que estiveram na Escola de Utiariti à época da missão. Este aspecto é ressaltado pela Myriam como um fato muito positivo do trabalho dos jesuítas. Ela não concorda com o método usado pelos missionários porque os indígenas perderam muito da sua própria cultura. Ela mesma teve que reaprender, inclusive a língua Pareci.
Conosco estavam três professores, a Cacique Myriam que também é professora. O Prof. César que usa barba é esposo da Professora Vera que coordena o setor pedagógico da Escola Técnica Federal. Além disso, o César é diretor da Escola Estadual Padre Arlindo em CNP. O Padre Arlindo estava na Missão Anchieta em 1961, era natural de Santa Catarina e permaneceu entre os indígenas, residindo nas aldeias e atendendo-os espiritualmente. Na reserva e em CNP é muito reconhecido tanto que os indígenas exigiram que seu corpo ficasse sepultado numa das aldeias. Nas fotos encontrarão a sepultura, as inscrições e verificarão todo o cuidado e respeito que têm por ele.
Sempre pensei que Utiariti fosse o nome de um pássaro e que o salto tinha esse nome por causa do Marechal Rondon. O Rondon continua mal visto na região e Utiariti não é pássaro. UTHIAHARITY, na língua pareci que é do grupo nuaruaque, significa povo sábio. Dai ser este local considerado “sagrado” pelos indígenas.
As fotos mostrarão que pouco mudou a área da reserva. O entrono é agronegócio puro e imenso. Encontrei na maloca da cacique um pôster do Blairo Magi que, com o apoio dos índios, asfaltou com apoio do governo federal uma estrada entre Sapezal e CNP. Beneficiou índios e suas próprias terras. O pedágio, no entanto, continua com os índios.
A reserva Pareci dificilmente será mudada porque se trata de um grande areão, improdutivo, servindo para pequena agricultura familiar. O agronegócio não se interessa pelo espaço entre o rio Sacre e Papagaio. Em CNP há uma empresa terceirizada da Petrobrás fazendo pesquisa e avaliando a viabilidade econômica do gás e do petróleo. Isso poderá mudar o perfil econômico de CNP e chegar a atingir a reserva indígena que, segundo dizem, está sobre uma grande reserva sobretudo de gás.
Algumas comparações causam espanto e algumas realidades preocupam. Espanta-me ver dentro da maloca um computador e a Cacique Myriam informando que terão internet, enquanto encontro em várias partes do Brasil professores que odeiam computadores; Espanta-me ver o investimento feito pelo MEC na Escola Técnica, inclusive com um corpo docente muito bem preparado, incluindo mestres e doutores, enfrentando uma dificuldade enorme porque os alunos não querem ser técnicos e, sim, advogados, psicólogos, médicos etc. Este panorama é muito comum nas escolas técnicas que se abrem pelo Brasil. O grupo que passa pela seleção corresponde a uma elite local, os professores, por incrível que pareça não reclamam de indisciplina escolar. A questão é outra: o objetivo dos alunos não corresponde ao objetivo da escola.
Fizemos o mesmo trajeto de 1961, chegamos às margens do Sacre onde há o mesmo sistema de cinquenta anos para atravessá-lo, puxamos a balsa como nos velhos tempos e consegui tirar uma foto no mesmo local e mesma posição de 50 anos atrás. Assim fica mais fácil para ver se o tempo foi ou não ingrato. Visitamos o rio Papagaio pelo lado oposto à antiga vila do Uthiaharity (povo sábio) e seguimos para a estrada asfaltada cortando o cerrado.
O restante, as fotos falarão mais que a narrativa. Numa delas procurei ficar na mesma posição do Fernando Almeida, segurando um galho de árvore para que o Salto Belo fosse visto. Ele, certamente recordará.
As escolas indígenas funcionam e as crianças falam um português correto.
Agora, força histórica é um fato! Numa das aldeias as crianças até hoje jogam “pipocão”. O nosso velho pipocão. Só que, entre indígenas que aprenderam a jogar com os padres jesuítas da Província do Sul, o jogo tem um nome europeu: spiryball. E, pelo Google, encontra-se até foto deste jogo.
A lembrança do Padre Selvaggi e dos colegas de 50 anos me acompanhou nessa segunda visita, as fotos representam a recordação e o silêncio que reina no local, quebrado pelo barulho das águas guarda em repouso merecido o corpo de nosso irmão, exemplo de dedicação aos indígenas, Padre Arlindo Ignácio de Oliveira.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

COLANDO PELA INTERNET E CELULAR

Lutar contra a cola é uma tarefa inglória. A escola que quiser fazer tal coisa deve preparar um up grade em suas avaliações. O professor Vasco Moretto, pesquisando numa escola em Brasília, as razões da cola, constatou que mais de 90% estavam atreladas aos nomes, datas e fórmulas. Quando as avaliações exigem comparações, análises de texto e pesquisa, torna-se nuito difícil colar através de um celular. Pela internet não, os recursos são múltiplos e a inteligência eletrônica de nossos alunos sabe como fazer.
Recentemente a imprensa informou sobre a questão de uma exigência escolar para retirar respostas de um site de comunicação. A intenção da escola enviando exercícios para os alunos em suas casas, pela internet, é excelente. Importante avaliar que os alunos precisam saber que se fizerem exercícios de fixação estarão criando condições para aprender. Para eles - e isso deveria ser muito debatido - aprender é o que deveria importar. O fato narrado pela imprensa dá conta de que a escola quando soube das colas pelo site de relacionamento, exigiu que uma estudante as retirasse de lá. A família sentindo-se agredida e alegando estar a aluna constrangida em sua liberdade, recorreu a uma delegacia segundo o órgão da imprensa. De sua parte a escola suspende a aluna por cinco dias e, segundo a família relata, envia a aluna para casa em horário escolar e sem avisar à família.
Penso em algumas considerações sobre o fato: primeiro é necessário saber de que a internet é capaz. Se usamos este veículo precisamos estar cientes de seu potencial e orientarmos os alunos sobre as possibilidades que terão. O importante é que se exercitem, caso contrário não terão condições de aprender. Mesmo ganhando um ponto ao final do mês, isto pouco acrescentará ao conhecimento necessário ao final do bimestre. Segundo é necessário ter a clareza de que não controlaremos a internet. E, se no caso dessa aluna, as informações fossem passadas pelos celulares, provavelmente a escola não saberia. Nem o Muhamar Kadafi consegue controlar o Twiter. Creio que instar a aluna para que retirasse as informações não é a causa do constrangimento e, sim, o envio da mesma para sua casa em horário escolar. É muito mais grave deixar uma pessoa menor de idade à mercê de todos os perigos de uma metrópole que colar pela internet. Terceiro, creio que a suspensão não cabe porque o veículo de comunicação é feito para esse fim: comunicar. Esta aluna merece um prêmio pela inteligência eletrônica, os colegas que usaram o sistema e ficaram calados merecem ser chamados a atenção pela falta de solidariedade à colega, apenas demonstraram esperteza "eletrônica". A todos os alunos é importante dizer que, pedagogicamente, quem não faz exercício não aprende e, por fim, para a escola seria interessante que os exercícios fossem sugeridos como atividade para ser realizada em função da responsabilidade de quem precisa aprender. À família, se ela tivesse reclamado por causa do abandono em que a filha ficou em plena rua, admitiria, de minha parte, a necessidade da procura de uma autoridade acima da escola, no entanto, em relação ao uso da internet e à suspensão melhor seria tratar o caso pedagogicamente, procurando-se a direção do estabelecimento de ensino.
Às vezes é melhor procurar perceber as mudanças destes novos tempos, procurar soluções mais educativas que as tradicionais e meios mais simples e de menor adrenalina para solucionar problemas.
Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e conferencista.
http://www.hamiltonwerneck.com.br/